sábado, 10 de fevereiro de 2024

MEUS 50 ANOS NO BRASIL - por Luís Zadra


Ao meio-dia, a sirene do navio Eugênio Costa dá o último aviso da partida para o Brasil. No cais do porto de Gênova meu pai Marino, Alberto, Aldo e outros amigos acompanham minha despedida. Ao papai nunca faltaram lágrimas em momentos de fortes emoções, mas eu no convés do navio, destemido, já estava longe com o pensamento. Anos de preparação na família comboniana e uma bagagem cheia de motivações muito fortes sempre me ajudaram a enfrentar o desapego da família que amo profundamente e que carrego dentro de mim, como enfrentei todas as outras partidas para encarar uma nova missão. 

Meu sonho era ir para o Brasil, poder me colocar a serviço da causa dos mais pobres do Nordeste. Desde a década de 1968 eu lia autores brasileiros, ouvia música popular brasileira e era informado sobre a situação da ditadura, da tortura e dos direitos humanos sendo pisoteados e negados. Viajei com apenas uma mala, com o essencial, disposto a tudo. Eu já podia me ver no meio do povo, na mata e no campo, sem a menor preocupação com os inconvenientes que poderia enfrentar. 

Cheguei ao Rio de Janeiro no dia 17 de janeiro, há cinquenta anos, e pouco tempo depois disse a mim mesmo: vou ficar aqui para sempre. Passadas algumas semanas, eu estava no Maranhão, mergulhando no sertão do Mirador onde, a cavalo, eu nunca tinha montado antes, para acompanhar um colega missionário em visitas as comunidades, fora do mundo, muito pobres, mas profundamente humanas. A memória que ainda está muito viva traz à tona muitas experiências profundas, muitas emoções, encontros, até situações perigosas porque desde o início estive envolvido, e ainda estou, na causa dos sem-terra. 

Ser filho de agricultores, muito apegado às minhas raízes, sempre me motivou a lutar. O contato vivo com a injustiça contra os pobres levou-me necessariamente a me envolver na causa. A injustiça, qualquer tipo de injustiça, me toca profundamente. Sempre tive uma grande paixão pela terra, pelas plantas, pelos animais, pela natureza. Eu moro na cidade, mas ao redor da minha casa, espremida ao máximo, tenho uma micro floresta. É a minha terapia. 

Com a mesma motivação e o mesmo entusiasmo tive experiências muito diferentes, mantendo a fidelidade ao meu sacerdócio, que sempre vivi como um serviço à causa da vida dos pobres. Paraibano, meu primeiro amor missionário na região pre-amazônica, depois o alto sertão de Tasso Fragoso e o Alto Parnaíba, as favelas de São Luís, também no Maranhão e desde 1996 no estado da Paraíba, dedicado à causa dos direitos humanos dos negros e quilombolas. Posso dizer que a vida no meio do povo me humanizou, redimensionou e relativizou minhas pretensões culturais, minha visão de mundo e me ajudou a entender o que é essencial. 

Vivi esses cinquenta anos intensamente. Passaram de pressa e me carregaram nesta aventura como fiéis companheiros de viagem. Nunca vivi grandes decepções, desânimo, desmotivação. O próximo ano vou completar 80 primaveras, se Deus quiser.: Sinto que aos poucos os anos pesam, mas que venham tantos outros que eu os aceitarei como presente. Às vezes me encontro pensando que não tenho medo se meus dias acabarem cedo. Mas olho para frente com otimismo, rejuvenescendo as motivações, os ideais em que acredito. Muitas coisas, muitas ideias, muitas teologias, joguei ao mar. Fui feliz como padre durante trinta anos e depois decidi deixar o sacerdócio, que sempre considerei um serviço por tempo determinado, para continuar a viver o Evangelho como missionário leigo, no espírito do Comboni, sem vínculos com uma instituição. 

Tenho uma família, uma mulher ao meu lado que compartilha alegrias e tristezas comigo, uma pessoa que amo profundamente, que ama profundamente os empobrecidos: temos dois filhos, Joice e Daniel, uma neta, Jade Amara, filha da Joice e Renan que moram conosco, que nos dá muita alegria e muita vida. Conosco mora nossa sogra de 99 anos. Uma família extensa que tem os problemas de todas as famílias. Sou um leigo casado feliz. "Nunca diga nunca” me lembrou uma pessoa anos atrás; a vida é sempre um dom, um pacote surpresa e você tem que vivê-la como um dom, disposto a mudar, a repensar, a abandonar muitas coisas. 

Encontro-me com a mesma motivação do dia da minha partida, mais maduro, mas sempre sonhador e sempre aberto ao novo. Livre e fiel ao Evangelho. Sempre procurei me deixar levar pela mão pela dor, pelo grito e pelas esperanças dos pobres. Me sinto uma pessoa serena, sempre em movimento aberta e normal. Em tudo isso, a figura e experiência de Cristo como exemplo e Mestre, testemunha de um Deus/Amor que hoje vejo como Alma, Sopro, Luz do cosmos onde estamos todos inseridos como partículas, unidos aos astros, à natureza, unidos às pessoas de todas as partes do mundo que sinto parte de mim mesmo. 

Amei e ainda amo tanto quanto eu fiz e ainda faço. A causa dos quilombos que abracei com alegria em 2003 como um novo caminho de vida com a Francimar me dá tanto, me motiva porque vejo que ajudamos e continuamos ajudando muitas pessoas a caminhar, favorecendo o entendimento das coisas, a tomar consciência do próprio ser e que por sua vez sempre nos motivaram a seguir em frente. 

Desde o início da minha vida no Brasil, sempre tive em mente a imagem do migrante que deixou para trás uma terra, uma família de origem para levar tudo isso numa dimensão muito profunda para enfrentar o novo. Amo minhas montanhas, minha cidadezinha Denno onde nasci, meu povo, meu Vale de Non, minha família de origem, mas sou um cidadão do mundo, porque sinto que tudo me pertence, me diz a respeito. Sempre procurei não ser protagonista, mas parte de um protagonismo coletivo. Autonomia, liberdade, consciência, coragem, solidariedade, partilha... Tudo contido em uma pessoa limitada, mas presente e desafiada pelos acontecimentos. 

Sempre me senti acompanhado por muitas pessoas que compartilham dos mesmos ideais e sonhos: estou aqui por elas também, não porque sou o melhor, mas porque me senti chamado. Nunca me incomodou estar no Brasil, pelo contrário, me deu muita alegria. E recordo com muito amor os vários colegas e muitas pessoas queridas que agora continuam vivos/as numa outra dimensão, no grande sopro cósmico e que tanto me ajudaram. 
Um enorme obrigado e um grande abraço a todos, amigos e amigas. 

Com carinho, Gigetto, Gigi, Luís

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

A Asdppb organiza um encontro de planejamento da comissão das comunidades quilombolas do Médio Sertão

A Ação Social Diocesana de Patos realizou o dia 08 de fevereiro reunião de planejamento com representação das comunidades quilombolas do Médio Sertão. Estiveram presente às representações das seguintes comunidades: Serra do Talhado e Monte São Sebastião (Santa Luzia), Pitombeira (Várzea), Aracati/Chã, Serra Feia e Santa Fé (Cacimbas), Areias de Verão e Sussuarana (Livramento), Domingos Ferreira (Tavares), Livramento (S. José de Princesa) e Fonseca (Manaíra). 
O encontro ocorreu por meio do Programa de Promoção e Ação Comunitária - PROPAC com o apoio de Misereor. 

Dentre os encaminhamentos foi sugerido que cada comunidade indicasse os representantes a comporem a comissão territorial do médio sertão, espaço esse que será pautado proposições e ações a serem realizadas nas comunidades quilombolas, também foi feito pelas comunidades quilombolas presentes um planejamento das ações para os próximos 06 meses. 

Esteve presente também o mandato do deputado federal Luiz Couto através do seu assessor Ancelmo Dantas que apresentou um panorama das ações do deputado que contempla as comunidades quilombolas na Paraíba. 





@misereor 
@quilombospboficial 
@_comunidadequilombola 
@luizcoutopt 
@ancelmodantas 
@regi_lucena 
@lih_xavier 
@junioragroecologia 


#quilombo #mediosertao #asdppropac

terça-feira, 16 de janeiro de 2024

O caminho do Grilo

Documentário produzido durante oficina de Produção Audiovisual, promovida pela AJURCC - Associação de Juventudes, Cultura e Cidadania, através do projeto do Festival Conecta Juventudes. 

Gravações na Comunidade Quilombola do Grilo, no município de Riachão do Bacamarte, PB, nos dias 20, 21 e 22 de dezembro de 2023



sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Inauguração da Sede Administrativa da CECNEQ - Paraíba


No dia 24 de novembro de 2023 na cidade de Catolé do Rocha, em evento alusivo às comemorações da semana da Consciência Negra, o Movimento Quilombola da Paraíba inaugurou seu espaço físico próprio, numa parceria celebrada com a Prefeitura Municipal local. O evento contou com a participação de diversas autoridades, tanto do município, estado e também do governo federal. 

A sede está localizada em um local estratégico no Sertão Paraibano, região essa, que concentra um grande número de Comunidades Quilombolas da Paraíba, num total de 22 por enquanto. O município sede possui 4 Comunidades Quilombolas, Lagoa Rasa, São Pedro dos Migueis, Curralinho/Jatobá e Pau de Leite. 

Na ocasião do evento foi apresentada a Comenda “Quilombos da Paraíba”, criada pela Coordenação Estadual, com o objetivo de homenagear as lideranças quilombolas, pessoas não quilombolas e entidades públicas e /ou privadas que tenham serviços relevantes na defesa dos direitos das comunidades quilombolas da Paraíba, durante o ano em vigor ou mesmo durante sua existência. 

Nesse momento foram homenageados (as), o Procurador da República na Paraíba, o senhor José Godoy, representando o Ministério Público Federal, Francimar Fernandes, representante da Associação de Apoio aos Assentamentos e Comunidades Afrodescendentes - AACADE, Lídia Moura, Secretária de Estado da Mulher e Diversidade Humana - SEMDH, e o senhor Lauro Adolfo Maia Serafim, Prefeito Constitucional do município de Catolé do Rocha, estado da Paraíba. 

Para o presidente da CECNEQ-PB, José Amaro: “foi um momento importante para nossa entidade, pois depois de 15 anos o Movimento Quilombola da Paraíba, pode ter um prédio físico para realizar seus planejamentos, desenvolver suas atividades, promover suas reuniões, ser vitrine de divulgação das produções das comunidades quilombolas (artesanatos, artistas, comidas e etc..) de todos os Quilombos da Paraíba.” 






@conaquilombos 
@prefeituradecatole 
@laurinhomaia 

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Catolé do Rocha vai sediar no dia 25/NOV Festival de Cultura Quilombola "Aquilomba Paraíba - 2023"


Na sexta-feira (24/11), acontece a inauguração da sede da Coordenação Estadual das Comunidades Negras e Quilombolas da Paraíba (CECNEQ), em imóvel cedido pela Prefeitura de Catolé do Rocha, e o III Simpósio "Todos Somos Um". 

O Festival de Cultura Quilombola "Aquilomba Paraíba - 2023" e o III Simpósio "Todos Somos Um" serão realizados no Centro Estudantil de Cultura 'Geraldo Vandré'.

MPF participa de atividades alusivas ao Dia da Consciência Negra na Paraíba

Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão destacou necessidade de se implementar políticas públicas efetivas para a população negra no estado 


Foto de cinco pessoas em apresentação cultural diante de auditório lotado. Fotos: Comunicação/MPF e Governo do Estado 

O Ministério Público Federal (MPF), por meio da procuradora regional dos Direitos do Cidadão, Janaina Andrade, participou de eventos alusivos ao Dia da Consciência Negra, nesta segunda-feira (20 de novembro), em João Pessoa. No início da manhã, na Reitoria do Instituto Federal da Paraíba (IFPB), a procuradora participou da solenidade de lançamento das Ações de Promoção de Igualdade Racial, uma iniciativa do Governo do Estado, por meio da Secretaria da Mulher e Diversidade Humana. 
Na oportunidade, foi lançado o Guia de Enfrentamento ao Racismo e o Selo de Educação Antirracista.

Segundo a secretária da Mulher e Diversidade Humana, Lídia Moura, hoje ainda vivemos um cenário desafiador de luta contra o racismo estrutural e o governo paraibano vem intensificando suas iniciativas afirmativas. "O lançamento de um guia especializado contendo conceitos sobre os tipos de racismo, locais e importância da denúncia, é mais um mecanismo que nos apoia a compartilhar informações sobre como podemos enfrentar o preconceito e viver com mais justiça racial", disse Lídia Moura, acrescentando que a publicação será uma referência estratégica na execução de políticas públicas, como na Educação, que lançou um curso de capacitação para professores antirracista e o Selo Escola Antirracista, que oferecerá recursos para projetos escolares que fortaleçam a equidade racial. 

A secretária-executiva de Gestão Pedagógica da Secretaria de Educação do Estado, Elizabete de Araújo, disse que o edital do Curso de Capacitação em Educação Antirracista será em parceria com a Escola de Serviço Público do Estado da Paraíba (Espep) e capacitará profissionais da educação para práticas pedagógicas antirracistas nas escolas. 

Quilombo Paratibe – No final da manhã, a procuradora Janaina Andrade representou o MPF em ações no Quilombo Paratibe, também na capital paraibana, promovidas com apoio da Secretaria Municipal de Saúde de João Pessoa. 
A líder quilombola Joseane Santos ressaltou a importância da data como forma de se fazer um resgate histórico e cultural. Ressaltou ainda que o combate ao racismo deve ser constante. 
Já a presidente da Associação de Apoio aos Assentamentos e Comunidades Afrodescendentes da Paraíba (Aacade), Francimar Fernandes, enfatizou que o mês de novembro sempre marca a resistência do povo negro. 
“O 20 de novembro representa também o momento de repensar, e de luta do povo quilombola. Hoje eu estou aqui participando da festa, mas nesse sentido da resistência também. Paratibe ainda não teve todo o seu processo demarcado, e eles estão resistindo a uma pressão muito grande, mas a gente espera que vai dar tudo certo”, declarou Francimar. 

A secretária-executiva de Saúde de João Pessoa, Janine Lucena, esteve presente no Quilombo Paratibe e também ressaltou a importância de lembrar a data. Ela destacou que durante o dia os quilombolas puderam ter acesso ao odontomóvel, com tratamentos dentários, e que a comunidade vem sendo sempre assistida com médicos e outros profissionais de saúde. 
Na ocasião, foi servida uma feijoada aos presentes e feitas apresentações culturais pelo povo da Comunidade Paratibe. 

Todos Somos Um – Além da participação das atividades desta segunda-feira, Dia da Consciência Negra, o MPF destaca a importância da realização do Simpósio Todos Somos Um e Festival Quilombola Paraibano, eventos que discutirão educação, igualdade racial e território, na próxima sexta (24) e sábado (25), em Catolé do Rocha, no Sertão da Paraíba. 
Na oportunidade, será realizada a inauguração, naquele município, da sede física da Coordenação Estadual Quilombola. A programação é uma realização da Coordenação Estadual das Comunidades Negras e Quilombolas da Paraíba (Cecneq/PB) e Governo do Estado da Paraíba. 

Para o presidente da Ceqneq, José Amaro da Silva Neto, os eventos do final de semana em Catolé do Rocha serão de extrema importância para se discutir os direitos das pessoas negras no estado. Ele confirmou que 42 comunidades quilombolas da Paraíba se farão presentes, além de órgãos públicos e representações da sociedade civil. “Teremos a participação do Governo do Estado, do MPF, do Ministério Público Estadual, mais de 30 grupos farão apresentações, serão mais de 1000 quilombolas, teremos feira de artesanato, enfim, são eventos que contemplarão a cultura afro-brasileira e das 49 comunidades quilombolas da Paraíba, que hoje representam mais de 6 mil famílias”, disse. 

Faixas nas unidades - Para chamar a sociedade à reflexão, foram afixadas faixas alusivas ao Mês da Consciência Negra nas unidades do MPF em João Pessoa, Campina Grande e Sousa. Comemorado no dia 20 de novembro, o Dia da Consciência Negra é uma data necessária para lembrar a sociedade sobre a importância de se discutir questões como o combate ao racismo e à discriminação e a necessidade da promoção da igualdade social. 

Reflexões e ocupação de espaços - A procuradora Janaina Andrade ressalta que o dia 20 de novembro é data que traz reflexões sobre as raízes históricas e culturais da população negra no Brasil. “Quando surge a pergunta se há necessidade de se contar a história negra do Brasil, a resposta é sim. O resgate histórico demonstra a invisibilidade do povo negro que reverbera cotidianamente na tentativa de reduzir a importância da polução negra na gastronomia, na cultura, transformada em racismo recreativo, como também na espiritualidade, transformada em racismo religioso. A realidade, comprovada em estatísticas, mostra a necessidade do MPF participar de espaços que visam promover e discutir questões como igualdade racial, racismo, representatividade, pertencimento, resistência e desigualdades sociais e econômicas”, destacou a procuradora da República Janaina Andrade. 







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